terça-feira, 13 de março de 2012

Coitadinha


Ela é daquelas que senta no sofá de espera do salão sem se olhar no espelho. As unhas são impecáveis, o cabelo meio enroladinho, a voz baixinha e suave. Aquela que você olha com expressão de nada e pensa: coitadinha.
Coitadinha tem namorado bom, pai presente, mãe amiga. Coitadinha visita a avó no feriado, faz bolo de laranja com calda de chocolate e só mostra decote quando coloca biquini. Aquela que senta invisível do lado do amigo do seu namorado. Você a encontra por acaso no banheiro – ela não precisa de amiga para ir ao banheiro junto – e pede sem graça um absorvente emprestado. Coitadinha é boazinha. Te faz sentir pena de tamanha ingenuidade. Te faz ficar desconfiada e logo se culpar. Desconfiar da coitadinha é crime. Ela é o tipo de mulher que não mata nem formiga.
Namora tranqüilo, ganha aliança de compromisso, bebe três litros de água por dia, escuta Chico, Marisa Monte e só usa vestido. Suas roupas estão sempre bem passadas, seus dias brilham igual o sol. Outro dia Coitadinha tropeçou e eu quis rir. Mas logo me culpei. Rir da cara de alguém tão boazinha, tão inha de tudo, que não mata nem pernilongo, é crime.
Coitadinha noivou com o bonito, rico, cheiroso e bom moço que é amigo de um amigo meu.
Recebi o convite de casamento com o nome da Coitadinha em letras douradas e inhas, do jeito que tinha que ser.
Coitadinha é aquela que me vê solteira, meio perdida amando o mundo, vivendo intensamente, e pensa baixinho de mim: coitadinha!

8 comentários:

  1. Gosto muito deste texto. Como as situações mudam de figura, dependendo dos olhos de quem vê.

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  2. Coitadinho é de mim que não tenho nenhuma coitadinha! Huahauahuaa

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  3. AMEIIIIIIIIIIIIIIII
    ESSE TEXTO!!!
    LICENÇA, MAIS JÁ COPIEI COLEI NO MEU ÁLBUM !


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  4. Falou bonito demais, Marcella. Meus parabéns!

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