quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

De: cérebro, Para: coração


Me deu o maior medo. Eu já estava quentinha, no meio das cobertas, feliz da vida porque amanhã não tinha hora para acordar e veio. Bateu o desespero, caiu a ficha. Finalmente a mensagem chegou. Demorou, mas veio. Veio como aqueles cartões bregas e exagerados que você abre, toca música e voa purpurina e dá um desespero danado. Veio em letra maiúscula, fonte 270: "Coração, você se apaixonou. Um abraço nada apertado se não dói mais, seu Cérebro". Não consigo mais dormir.
Tenho vontade de te ligar e dar uma de louca como eu fiz quando estávamos no meio da pista de dança da boate se beijando e eu cortei clima perguntando se você estava arrependido. E você me olhou com cara de quem olha pra uma louca que não sabe o que está dizendo e disse "lógico que não". Tive essa mesma vontade. De ligar e dar mais uma de louca que não sabe o que está dizendo e perguntar se, por favor, pelo amor de Deus, por todos os santos que nós não acreditamos, eu posso me apaixonar por você. Depois de tantos anos, tantos desencontros e mandando em tanta gente, eu preciso saber se posso, se realmente posso, finalmente obedecer. Eu não sei se a sua ficha caiu que estamos juntos. Olha, eu preciso que você repita pra você mesmo essas palavras: estamos juntos. Você sente um negócio na garganta? Você é homem, é menos intenso que eu e sabe amolecer e endurecer o coração como ninguém. Mas me diz: também é difícil para você admitir que agora é meu?
Lembrei que você disse que não estava perdidamente apaixonado. Confesso que eu também não. Perdidamente é muito forte. Mas eu estou apaixonada. Diz a Bia, minha amiga, que homem só apaixona depois. Mentira. Eu nem acreditei. Mas eu fingi que acreditei. Vai vê é assim que funciona mesmo. Vai vê você daqui a uns dias se dá conta que isso é paixão. Veja só, comigo aconteceu quando eu estava pronta para dormir, pensando em pegar uma meia no armário. Quem sabe com você não acontece enquanto passa fio dental nos dentes? Nunca se sabe. Mas enquanto eu não tenho certeza de nada, preciso saber se posso. Posso pensar na gente? Programar você, encaixar você, limpar essa sujeira toda que tem aqui dentro e por você?
Já se passaram duas horas, vinte músicas, três sites de astrologia. Lembrei de um escritor amigo que fiz na internet, que veio outro dia me contar que tinha medo de perder a namorada. Eu achei meio bobo e respondi que ele corria esse risco desde o momento que a conheceu. Irônico. Eu sinto o mesmo medo ridículo dele. Meu medo é que você seja como aquela antiga eu, que se comprometia e logo jogava fora porque se achava mais incrível. Confesso que estou num beco sem saída. Você É incrível. Você é aquele tipo que eleva o nosso padrão de qualidade e ferra com a nossa vida se um dia sair dela sem pedir autorização. Fica difícil achar alguém tão incrível como você.
O engraçado é que eu não fiz nada, não gritei, não liguei, não mandei uma mensagem de texto psicótica louca, e esse medo passou. Ou tudo isso não passou de um surto de insônia, ou acabou de chegar a resposta do meu coração para o cérebro, mais ou menos assim: "Com todo respeito, chefe: eu agüento. Ou pode me chamar de coração mole".

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